Patrícia Azevedo
A internet coloca tudo ao alcance das mãos. Com um clique é possível mandar flores, fazer compras e, para os mal-intencionados, comprar aparelhos de espionagem e equipamentos que permitem construir os chamados “chupa-cabras”, mecanismos que roubam e armazenam dados de cartões bancários e de créditos.
Estes equipamentos têm uso autorizado, como é o caso do coletor de dados de cartão magnético. O aparelho portátil costuma ser usado em clubes, condomínios e academias para controlar e liberar o acesso dos sócios. “Ele tem uma aplicação prática em empresas e por isso é vendido de maneira legal, mas também pode ser usado de forma errada para clonar cartões”, afirma um policial civil que pede sigilo sobre a sua identidade.
De acordo com este policial, uma adequação no aparelho permite transformá-lo no chamado “chupa-cabras”. De posse dos dados, quadrilhas de estelionatários conseguem clonar cartões bancários e de créditos.
E o número de fraudes bancárias e eletrônicas cresceu vertiginosamente em todo o Brasil no ano passado. De acordo com dados do Grupo de Resposta a Incidentes para a Internet Brasileira, mantido pelo Comitê Gestor da Internet, no terceiro semestre de 2005 o crescimento foi de 259% em relação ao trimestre anterior, passando de 2.213 para 7.942 notificações de fraudes. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o aumento chegou a 1313%.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) não dispõe de estatísticas sobre estes tipos de crimes, mas a estimativa é que sejam registrados mais de 100 ocorrências por mês somente em duas delegacias de Campinas.
Com estes cartões em mãos, os falsários fazem compras e ajudam a acumular um prejuízo astronômico para bancos e administradoras de cartões de créditos. De acordo com Jair Scalco, diretor setorial da área de Cartões e Negócios Eletrônicos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), somente neste ano, os bancos brasileiros tiveram um prejuízo de R$ 300 milhões com estes tipos de crime. Esta realidade força os bancos e operadoras de cartões de crédito a investirem cada vez mais em novos softwares e mecanismos que garantam a segurança dos clientes.
A expectativa da Febraban é a de que as instituições apliquem cerca de US$ 1 bilhão no sistema para melhorar a segurança dos clientes, sejam usuários de cartões bancários ou do acesso de contas pela internet. Entre as novas tecnologias estão o token (uma chave com senha extra que muda a cada minuto e pode ser usado nos computadores por meio da entrada USB ou nos caixas eletrônicos), o smart card (um cartão inteligente com chip) e cartões de senhas (com códigos extras que devem ser digitadas conforme o pedido do banco).
O detetive particular especializado em crimes eletrônicos André Cardelli acrescenta, no entanto, que clonar cartões bancários não é uma tarefa para qualquer um. “É necessário que seja uma quadrilha organizada e que tenha entre eles alguém com conhecimento em tecnologia e instrumentação eletrônica”, considera.
Mas com os equipamentos de espionagem é possível grampear ligações telefônicas, copiar dados de computadores e usar estas informações de forma ilegal. “Com um grampo, a pessoa consegue aplicar pequenos golpes usando as informações roubadas, mas nada que cause grandes prejuízos ao sistema”, acrescenta Cardelli.
Na avaliação de Cardelli, a venda destes equipamentos não deve ser proibida. “O correto seria orientar os usuários sobre os riscos de entregar o seu cartão nas mãos de funcionários para pagar compras.”
Os próprios sites reconhecem que os produtos que vendem podem ser usados de forma ilegal. Em um deles, o aviso diz que “vários de nossos equipamentos não são vendidos nos EUA e em outros países que proíbem a importação dos mesmos. É de responsabilidade do comprador obedecer as leis de importação e uso de equipamento para o país que se destina”.
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